sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pieces of me


Essa deve ser a coisa mais próxima de mim mesma que eu já consegui chegar até hoje. São quatro da manhã, eu to morrendo de tédio e, minha internet não tá funcionando. Na verdade, eu que sempre enchi a boca pra me definir como diferente, me sinto muito igual nesse momento. Muito padrão. Muito "típica filinha da mamãe" que dorme e acorda a hora que quer nas férias, arruma meia duzia de coisas dentro de casa e acha que fez muito. Sou a típica menina, que tem como um de seus sonhos tirar logo o aparelho, só pra poder fazer pose de diva pop quando um de seus amigos chegar de surpresa com a câmera.

Acho que é por isso que eu questiono tantos as coisas. Porque sou uma inteligente presa a um mundo burro (o que me torna uma anta rosa choque e isso torna a frase contraditória, mas enfim). Eu sou a fina flor da adolescência. Eu sou o ápice do materialismo, consumismo e desvalorização do que realmente importa. Eu sou daquele tipo que apesar de achar isso a coisa mais fútil e manjada do mundo, se tranca no quarto com uma sacola de biscoito recheado, deita na cama e diz palavras que mereceriam pena de morte: "Hoje eu só quero deitar e morrer!"

Eu sou aquele tipo de patricinha suburbana descituada. Aquele tipo de menina que ainda tenta entender os homens e que fica triste quando eles agem como uns idiotas (fala sério, isso é tão deles). Eu sou a brasileira que por mais que bata no peito e diga que acha a política externa dos Estados Unidos um lixo, e as pessoas super arrogantes, tem um sonho americano. De ser popular, bonita, bem sucedida, e formar com marido e filhos um elenco de comercial de creme dental.

Eu sou mais um cérebro padrão pouco pensante de uma sociedade em uma evolução lesada e descoordenada. Sou daquele tipo de menina atrapalhada que não sabe usar cera depilatória, e meleca o quarto todo com a melhor amiga tentando aprender lendo as instruções (quem lê instruções pra fazer alguma coisa?) . Eu sou o tipo de menina que pula de alegria quando tem lançamento de maquiagem. E que começa a chorar descontroladamente quando chega no e-mail o número de crianças que morrem de AIDS na África. Eu sou daquele tipo sínico debochado. Que ri da própria cara, ou chora com pena de si.

Eu sou aquele tipo de garota, que já ta pelas tabelas de viver assim. Com o cérebro aprisionado a um padrão egoísta, elitista e nada popular. A um padrão que ninguém concorda, mas todos seguem. Eu to cansada de saber apenas o que as pessoas querem que eu saiba. Gostar do que as pessoas querem que eu goste. Me casar porque minha vó, minha mãe, minha madrinha e todas as "minhas" acham fundamental. Família pra mim não pode ter uma definição diferente de duas alianças? Tipo, eu quero casar. Só não entendo porque as pessoas veêm isso como algo de suma importância.

E se eu quiser trair o babaca que tá comigo? Isso me torna uma vagabunda? Mas eu ja fui traída tantas vezes. Tudo que vai não volta? Porque em pleno século XXI temos que conviver com o machismo? Se ser igual a eles significa pagar a conta, bancar a casa. Que assim seja, todas as coisas boas precisam de sacrifícios. E se ser vista como uma pessoa igual for o prêmio, não me importo de rachar a conta, nem de abrir a porta do carro quando eu mesma for entrar. To estudando pra isso, não é? Não quero independência? Estabilidade? A vida não será flores sempre e eu quero está pronta pros espinhos.

Quero usar bem meu voto, não quero por qualquer estrupício no poder. É minha sociedade, meu país. Como posso ver isso como qualquer coisa? É muita coisa! Quero ser mais do que a menininha que ainda nao se desapegou da sessão infantil de roupas. Quero ser mais do que a deslumbrada que assiste desenho animado e é viciada em rosa, mate e orkut. Quero ser mais do que uma decendente opcional, convicta e irremediável de Mia Colucci. Quero ser respeitada pelo o que eu sou. Só porque eu prefiro ter uma filosofia de vida infantil, não significa que eu não tenha consciência dos meus atos e responsabilidades. Não significa que eu não seja uma "imponente cidadã crítico-reflexiva". Não significa que eu seja frágil a ponto de me entregar aos problemas sempre ao invés de encará-los.

Eu tenho 16 anos. Sou carioca, odeio mentiras, odeio exageros, odeio violência, odeio desperdícios e odeio injustiça. Sei o que preciso saber sobre homens e relacionamentos. Não ponho em prática por pura molecagem, pura inconseqüência, pura falta de vergonha na cara. Não tenho medo de usar tênis da barbie na escola, nem de dizer que acredito em fadas. Não tenho medo de ocupar boa parte da minha parede com a foto da minha banda favorita e a outra parte com foto dos meus amigos. Já tive medo, já fui mais uma. E ao final desse texto descobri que realmente sou diferente. Não por pensar ou ser diferente dos outros e sim por agir diferente. E como já dizia um dos meus boêmios e maravilhosos ídolos...

"Não são nossas qualidades que definem quem somos, e sim nossas escolhas" (Alvo Dumbledore)
Eu sei quem sou.
Mas não sou nada que eu não tenha concordado em ser.

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