sábado, 11 de junho de 2011

I wanna be the rain



As lágrimas nunca vieram tão quentes, a dor nunca veio tão impiedosa. Nunca fizera tanto frio em Junho, o coração nunca pediu tanto para parar. Tal qual aquelas pessoas torturadas de filme americano que imploram pela morte. Faltava alguns dias para o Dia dos Namorados, e embora o presente que ela tinha gastado uma fortuna e boas horas planejando estivesse quentinho e bem guardado em seu armário, seu namorado – ex - já tinha pego o ônibus, debaixo de chuva, para casa. O ponto estava quase vazio, no celular tinha 148 chamadas não atendidas da sua mãe, talvez o ônibus dela já tivesse saído há alguns minutos, mas ela não conseguia se mover. Ela lembrou Caio Fernando de Abreu e chorou pela guerra cotidiada e pelos apelos de paz não atendidos. E depois começou a lembrar dela mesma, por tantas vezes ela deu segundas chances, por tantas vezes ela rezou para que ele mudasse, por tantas ela sorriu para confortá-lo com o próprio coração em cacos. Por tantas vezes ela saiu correndo atrás dele enquanto subia no ônibus dizendo que iria reconsiderar, dizendo que eles iriam superar isso juntos. Por tantas vezes ela quis ser forte mas cedeu a força daquele sentimento louco. E de onde veio a força agora? Ela não sabia, só sabia que a temperatura da água que caía do céu estava muito baixa, como a de seu corpo... exceto a cabeça, sua cabeça fervilhava. Até que uma voz rouca, que competia com o barulho da chuva, interrompeu seu martírio interno.

- Ei menina, este é o último ônibus... você vai ou não?

E ela subiu no ônibus em movimentos de robô, sem saber direito se aquilo era só um reflexo do hábito, ou se ela ainda tinha vontade de voltar para casa. Sentou-se no banco, pela primeira vez em muito tempo, sem saber o por quê de estar voltando, o por quê de estar sentando, respirando, subindo degraus... sem saber o por quê.

 
 
* Esta história é fictícia, mas não significa que não pode ter acontecido ;}

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